A oposição, contudo, continua cada vez mais forte e já controla uma base militar aérea e importantes centros de produção de petróleo.
Os mais violentos combates ocorreram em Zawiya, a 50 km oeste de Tripoli. Uma unidade do Exército ainda leal a Gaddafi abriu fogo com armas automáticas contra uma mesquita onde moradores --alguns armados com rifles-- declararam apoio aos protestos na capital.
As tropas destruíram o minarete da mesquita com uma arma de combate a aviões. Não há números oficiais, mas um médico de uma clínica local disse ter visto ao menos dez corpos, todos com tiros na cabeça e no peito, assim como 150 feridos. O site de notícias líbio Qureyna diz que ao menos 23 morreram e muitos dos feridos não puderam ir ao hospital sob o risco de serem mortos por "mercenários e forças de segurança".
Uma testemunha disse que um dia antes um enviado de Gaddafi foi à cidade avisar aos manifestantes que deixassem o local ou enfrentassem o massacre.
Depois do ataque, milhares se reuniram na praça dos Mártires, ao lado da mesquita Souq, para gritar palavras de ordem como "saía". "As pessoas vieram para enviar uma mensagem clara: nós não temos medo da morte ou das suas balas", disse uma testemunha, citada pela agência de notícias Associated Press.
Horas após o tiroteio em Zawiya, Gaddafi estava de volta à TV estatal para um discurso no qual lamentou as vítimas e atribuiu a revolta à rede terrorista Al Qaeda e a adolescentes que tomaram "leite com Nescafé e alucinógenos".
"Que vergonha, povo de Zawiya, controle seus filhos", disse. "Eles são leais a [Osama] bin Laden. O que vocês tem a ver com Bin Laden, povo de Zawiya? Eles estão explorando seus jovens. Eu insisto que é Bin Laden".
Zawiya, cidade estrategicamente próxima ao porto e às refinarias de petróleo, é a última das cidades a ser dominada pela oposição desde que a rebelião começou, em 15 de fevereiro. O último balanço aponta que ao menos 300 morreram.
Segundo o "Quryna", outro batalhão liderado pelo próprio filho de Gaddafi atacou a localidade de Mesrata, no leste de Trípoli. Mas os rebeldes resistiram e obrigaram os militantes a fugir.
Ao sudeste da Líbia, outra cidade, Al Koufra, foi colocada sob controle dos rebeldes, explica o jornal. Eles destruíram todos os símbolos do regime e desmantelaram as forças de segurança.
A maior parte do leste da Líbia já está sob controle da oposição e aumenta a cada hora o número de diplomatas e ministros que abandonam o governo de 42 anos de Gaddafi. O ditador ainda está sob firme controle da capital, algumas cidades dos arredores, o desértico sul e partes esparsas do oeste.
A reação de Gaddafi foi a mais violenta na onda de revoltas que tomou o mundo árabe desde janeiro passado e derrubou os ditadores dos dois vizinhos da Líbia --Egito e Tunísia.
PETRÓLEO
Mais cedo, relatos de moradores da região leste da Líbia indicam que os opositores já tomaram o controle de importantes terminais de produção de petróleo no país, o que pode ameaçar o fluxo de fornecimento a diversos países e elevar a cotação do produto internacionalmente.
A turbulência no 12º maior exportador petrolífero do mundo já cortou pelo menos 400 mil barris por dia (bpd) da produção líbia normal de 1,6 milhão de bpd, de acordo com cálculos da Reuters.
Paolo Scaroni, executivo-chefe da grande petrolífera italiana Eni, disse que a queda na produção líbia é muito mais dramática que isso, estimando que o país está colocando 1,2 milhão de bpd a menos no mercado.
Os preços do petróleo continuam subindo e as bolsas registravam quedas nesta quinta-feira devido ao temor provocado nos mercados pela revolta líbia e seu possível contágio a outros países do mundo árabe.
O barril de Brent do Mar do Norte para entrega em abril aproximou-se dos US$ 120 nesta quinta-feira pela manhã no ICE (InterContinental Exchange) de Londres, seu mais alto patamar desde setembro de 2008. Às 15h50 de Brasília, estava cotado em US$ 114,64, alta de 3% em relação ao fechamento de quarta-feira.
Nessa mesma hora, no Nymex (New York Mercantile Exchange), o barril de WTI (West Texas Intermediate, denominação do "light sweet crude" negociado nos EUA) para entrega em abril subia 1,5% aos US$ 99,63, depois de ter alcançado os US$ 103,41 por barril no fim dos pregões asiáticos, seu preço mais elevado desde setembro de 2008.
A Líbia, membro da Opep (Organização de Países Exportadores de Petróleo), é um dos quatro principais produtores africanos, com uma produção de 1,69 milhão de barris diários, dos quais exporta 1,49 milhões, a grande maioria (85%) para a Europa, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia).
AMEAÇA
Em seu discurso na TV, Gaddafi alertou que as revoltas podem interromper o fornecimento do combustível ao exterior. "Se os cidadãos não voltarem a trabalhar, se cortará o fornecimento de petróleo", disse o ditador à TV estatal, em uma aparente tentativa de conquistar apoio internacional.
Os relatos ainda são desencontrados e há testemunhas dizendo tanto que a produção está protegida pelos rebeldes quanto que os opositores já interrompem a produção em determinados locais.
O engenheiro mecânico Moustafa Raba'a, que trabalha com a indústria petrolífera Sirte, afirmou ao jornal britânico "Guardian" que "todos os poços de petróleo da região sul" da Líbia já estão em controle dos rebeldes.
"A ordem divulgada é que devemos mandar uma mensagem para Gaddafi parar de massacrar nosso povo em Benghazi. Tomamos a decisão de negá-lo o privilégio de exportar petróleo e gás para a Europa", disse ao "Guardian", acrescentando que somente no poço de Dregga, na região leste, o bloqueio já evitou que 80 mil barris por dia fossem exportados.
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